Minha mãe diria que eu dramatizo demais, que sou um extremista nas questões da vida. Pode ser. No entanto, eu não faço para me exibir, como pode parecer. Eu o faço porque realmente sinto.
Ao mesmo tempo de minhas ambições profissionais serem tão grandes - a ponto de qualquer conquista, não sendo o mundo, ser pouco -, as ambições do meu espírito são tão enormes ou possivelmente maiores ainda. O revés é o seguinte: será que é possível ter os dois?
Eu sou muito jovem para ser tão adulto. Agora não era o momento para ter uma carga de trabalho de 12 horas/dia. Era a hora de estar navegando oceanos nunca dantes navegados; desbravando todos os lugares que eu sonhei conhecer enquanto meu espírito ainda é puro; usando o ócio para desenvolver - com toda a minha capacidade mental desperdiçada - os pensamentos que não tenho mais tempo pra pensar; evoluindo minha alma; conhecendo seres diferentes desses rotineiros desprovidos de psique; vivendo paixões. Seria, de fato, um extremismo dizer que já é tarde demais para viver tudo isso.
Entretanto, o que me aflinge, não é todo esse tempo perdido. O que anda tirando meu sono é: se eu comecei agora, tão cedo, será mesmo que algum dia vou parar?
A ocidentalidade nos leva a acreditar que o que nós fazemos diariamente é só um estágio para, logo, podermos fazer o que queremos fazer. Só que esse "logo" nunca chega. Estamos procrastinando os nossos sonhos a troco de manter o "sistema" ativo. Correndo sem nunca chegar.
É como olhar, de dentro de um carro, a rodovia passando veloz. A ilusão é pensar que é ela que passa veloz, quando temos a opção de, no lugar de acelerar, andar sobre ela. A 140 km/h, daqui a poucas horas eu terei vinte anos e em dias eu terei oitenta.
-Por favor, me deixa descer!
-Se você quiser sair, vai ter que pular, o carro ta sem freio.
-Mas... Se eu pular, eu posso acabar me machucando ou até morrendo.
-Me desculpe. Só andam a pé aqueles dispostos a correr riscos, esses beligerantes chamados "corajosos". São tão idiotas, eles pulam quando é muito mais cômodo ficar dentro do carro.
(Ploft!)