terça-feira, 27 de abril de 2010

Quando os filhos partem...

por Marilda Piccolo

Nunca se sabe quando os filhos vão embora, mas os pais sempre vão achar que é cedo demais. Por mais que você (como mãe ou pai) tenha lido trezentas e quarenta e sete vezes o poema de Kahlil Gibran (“Teus filhos não são teus filhos, são filhos e filhas do apelo da vida...”), por mais que você tenha se convencido ao longo da existência daquelas criaturas de que eles iriam partir: sempre é muito cedo.

Os filhos partem por muitos motivos: para estudar, casar, trabalhar, explorar cavernas, escalar montanhas, mergulhar em mares nunca dantes navegados... eles põem-se a caminho porque têm um mundo de coisas a fazer, de forma que sobra pouco tempo para repararem em nós. E não o fazem para nos ferir, na verdade, se querem nos ferir partir é a menor das armas. Eles têm que partir assim como a água de um rio corre, porém há sempre rios de águas frias/congelantes e rios de águas amenas.

É preciso aceitar a partida, porém sempre se fica com o coração na boca, mas a vida na terra não tem como prosseguir sem os rios que correm e os filhos que partem. Mas eles (e todos os filhos que já deixaram a casa dos pais, inclusive eu) precisam saber que depois que saem a casa fica com estranhos movimentos subterrâneos, às vezes cóleras vêm ter conosco e ainda há vezes como se austeros seres extra-terrestres ou inumanos viessem nos arrancar as declarações mais inconfessáveis.

A partir do dia da partida de cada um dos filhos, vive-se com um nó na garganta, ou melhor, com aquela sensação de falta de fôlego como quando se corre muito e de repente se pára, bruscamente.

Mas há o lado bom dos filhos partirem, você os vê grandes, crescendo na vida... Se partem é porque você lhes deu as penas das asas necessárias ao vôo, você lhes mostrou que há um céu, que nele há nuvens... Você lhes fez ver as lonjuras, você os desafiou às funduras, você lhes ensinou as regras e até mesmo como desrespeitá-las.

E o melhor dos filhos partirem é que eles voltam, em visitas rápidas, para comer aquele bolo que só você sabe fazer, para passar a madrugada conversando ou para buscar a mesada... Mas eles voltam, ah, voltam!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

it might change some when, but an end? there's no end!

As coisas poderiam estar melhores para nós, eu quero dizer, melhores entre nós. Não é mais o mesmo, eu percebo que não é, nós percebemos e todos sabem. É cedo para já estar mudando, e era cedo quando dissemos "para sempre". Mas, essa frase que diz que o "para sempre sempre acaba" já é uma contradição a partir do momento que é proferida, não dou muito valor pra ela, é cedo para dizer.

Nós, literalmente, enterramos nossas lembranças, nossos sonhos e nosso amor. Pode ser decomposto pela ação do tempo, agora eu digo num duplo sentido, mas um restinho estará sempre lá, isso é tão inevitável quanto a nossa separação, como uma faca de dois gumes.

Eu não estaria sendo verdadeiro se eu dissesse que nada mudou, pois mudou, mudou muito. No entanto, também seria uma inverdade dizer que está chegando o fim ou é o fim. Eu os amo, e o meu amor, amor de verdade, não acaba. Pra isso não tem fim!

Yeah we knew we had to leave this town
But we never knew when, and we never knew how
We would end up where we are
Yeah we knew we had to leave this town
But we never knew when, and we never knew how
Never knew anything
(Daughtry - "September")

domingo, 18 de abril de 2010

Família

"Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítida." (Monique Revillion)

Era manhã quando recebi aquele telegrama, que fez eu me sentir de maneira inexplicável, não foi um bom sentimento. Ele dizia: “Edu, eu sei que você está distante, e que provavelmente você não está interessado em ver todos de novo, mas a Tia Maria está no leito de morte, e não para de falar de você. Eu sei que é pedir muito, porém, por favor, venha! Com carinho, sua prima Ju.” Num ato impensado e mal calculado, eu fui.

Eu havia me acostumado a ser sozinho, ter apenas minhas fotografias, meus hábitos e minha cultura, nada mais, e tive medo de ir e me desacostumar.

Durante o vôo, tudo começou a voltar na minha mente, às lembranças da infância, a casa na árvore, minha adolescência, e os motivos pelos quais eu me afastei tanto após a faculdade. Eu não suportava mais toda a intromissão dos irmãos e sobrinhos do meu pai, e não eram poucos. Com eles tudo sempre foi muito complicado, e eu acho que minha presença nunca fez diferença, talvez porque eu fosse o deslocado, como a ovelha negra. Um dia eu fui embora pensando em nunca mais voltar, e me afastei.

Cheguei à cidade, pouco havia mudado, ao atravessar aquelas avenidas cheias de palmeiras, e passar por aquelas quadras, eu não pude evitar, eu me lembrei de toda a minha vida naquele lugar, e lutei para conseguir ficar firme. Desci na casa da minha tia, hesitei antes de tocar aquela campainha antiquada que eu sempre adorei, até que eu toquei.

Minha prima atendeu a porta, e eu não posso descrever o olhar dela ao me rever, seus olhos brilhavam, ela me deu um abraço forte, e assim foi com os outros que estavam lá, enquanto eu atravessava o corredor eu fui recebendo carinhos sem palavras, meu coração já não cabia dentro do meu peito. Fui até a cama onde minha tia estava, e disse: “Oi tia!” Ela ficou me encarando maravilhada e respondeu: “Oi monstro!” Me deu um abraço e se foi, partiu. O meu apelido de infância foi a última coisa que ela disse.

No final das contas, todos eles estavam lá para me amparar, e a minha presença fez diferença para a minha família. Mas, a realidade cai de volta sobre nós, como uma bola de neve numa avalanche, novamente, eu tive que ir embora.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Coisa da cabeça isso não é, ninguém escolheria sentir tal sentimento racionalmente. A questão é que não é uma escolha, muito menos uma ligada as nossas conexões nervosas, ou as nossas faculdades intelectuais. Quem é que em sã consciência faz tudo por outro alguém, se faz inferior, ou melhor, se inferioriza? Quem é que, usando a cabeça, se deixa levar sem rumo e sem direção? Que ser racional não consegue se focar por causa de um sentimento? Me diz! Não, eu sei que isso não é coisa de gente que ta pensando não. É quase como um feitiço, só não digo que o é, porque o sobrenatural não é explicação pra nada. Mas, quem foi que disse que tem explicação? Como os insensatos dogmas, foi programado para não ser compreendido, e eu desprezo o não-entendimento.
É coisa inventada para auto punição, auto destruição. É indigno de respeito. É absurdo, estúpido, miserável e chega a ser cômico. É coisa dos loucos, que somos. E sim, eu estou falando de amor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

(already) missing it, like hell

O futuro chegou mais rápido do que eu esperava, o que eu temia acontecer daqui a um tempo já está se mostrando realidade, é cedo, precipitado e inesperado, mas é o que é, infelizmente.
Para o meu futuro eu já aguardava ver os que estão longe cada vez mais raramente e com visitas pouco duradouras. Confesso que esperava mais intensidade, ficou em falta. Já imaginava que inevitavelmente iria acontecer, eu só não sabia e não queria que começasse agora. Não, eu realmente não quero.
As estações passaram e eu gostaria de dizer que nada mudou, não o posso. Em vez de estar indo de volta pra casa, estou a cada dia mais distante da mesma. Com esse intertexto e a nostalgia de sempre, eu termino o meu...