por Marilda Piccolo
Nunca se sabe quando os filhos vão embora, mas os pais sempre vão achar que é cedo demais. Por mais que você (como mãe ou pai) tenha lido trezentas e quarenta e sete vezes o poema de Kahlil Gibran (“Teus filhos não são teus filhos, são filhos e filhas do apelo da vida...”), por mais que você tenha se convencido ao longo da existência daquelas criaturas de que eles iriam partir: sempre é muito cedo.
Os filhos partem por muitos motivos: para estudar, casar, trabalhar, explorar cavernas, escalar montanhas, mergulhar em mares nunca dantes navegados... eles põem-se a caminho porque têm um mundo de coisas a fazer, de forma que sobra pouco tempo para repararem em nós. E não o fazem para nos ferir, na verdade, se querem nos ferir partir é a menor das armas. Eles têm que partir assim como a água de um rio corre, porém há sempre rios de águas frias/congelantes e rios de águas amenas.
É preciso aceitar a partida, porém sempre se fica com o coração na boca, mas a vida na terra não tem como prosseguir sem os rios que correm e os filhos que partem. Mas eles (e todos os filhos que já deixaram a casa dos pais, inclusive eu) precisam saber que depois que saem a casa fica com estranhos movimentos subterrâneos, às vezes cóleras vêm ter conosco e ainda há vezes como se austeros seres extra-terrestres ou inumanos viessem nos arrancar as declarações mais inconfessáveis.
A partir do dia da partida de cada um dos filhos, vive-se com um nó na garganta, ou melhor, com aquela sensação de falta de fôlego como quando se corre muito e de repente se pára, bruscamente.
Mas há o lado bom dos filhos partirem, você os vê grandes, crescendo na vida... Se partem é porque você lhes deu as penas das asas necessárias ao vôo, você lhes mostrou que há um céu, que nele há nuvens... Você lhes fez ver as lonjuras, você os desafiou às funduras, você lhes ensinou as regras e até mesmo como desrespeitá-las.
E o melhor dos filhos partirem é que eles voltam, em visitas rápidas, para comer aquele bolo que só você sabe fazer, para passar a madrugada conversando ou para buscar a mesada... Mas eles voltam, ah, voltam!