domingo, 18 de abril de 2010

Família

"Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítida." (Monique Revillion)

Era manhã quando recebi aquele telegrama, que fez eu me sentir de maneira inexplicável, não foi um bom sentimento. Ele dizia: “Edu, eu sei que você está distante, e que provavelmente você não está interessado em ver todos de novo, mas a Tia Maria está no leito de morte, e não para de falar de você. Eu sei que é pedir muito, porém, por favor, venha! Com carinho, sua prima Ju.” Num ato impensado e mal calculado, eu fui.

Eu havia me acostumado a ser sozinho, ter apenas minhas fotografias, meus hábitos e minha cultura, nada mais, e tive medo de ir e me desacostumar.

Durante o vôo, tudo começou a voltar na minha mente, às lembranças da infância, a casa na árvore, minha adolescência, e os motivos pelos quais eu me afastei tanto após a faculdade. Eu não suportava mais toda a intromissão dos irmãos e sobrinhos do meu pai, e não eram poucos. Com eles tudo sempre foi muito complicado, e eu acho que minha presença nunca fez diferença, talvez porque eu fosse o deslocado, como a ovelha negra. Um dia eu fui embora pensando em nunca mais voltar, e me afastei.

Cheguei à cidade, pouco havia mudado, ao atravessar aquelas avenidas cheias de palmeiras, e passar por aquelas quadras, eu não pude evitar, eu me lembrei de toda a minha vida naquele lugar, e lutei para conseguir ficar firme. Desci na casa da minha tia, hesitei antes de tocar aquela campainha antiquada que eu sempre adorei, até que eu toquei.

Minha prima atendeu a porta, e eu não posso descrever o olhar dela ao me rever, seus olhos brilhavam, ela me deu um abraço forte, e assim foi com os outros que estavam lá, enquanto eu atravessava o corredor eu fui recebendo carinhos sem palavras, meu coração já não cabia dentro do meu peito. Fui até a cama onde minha tia estava, e disse: “Oi tia!” Ela ficou me encarando maravilhada e respondeu: “Oi monstro!” Me deu um abraço e se foi, partiu. O meu apelido de infância foi a última coisa que ela disse.

No final das contas, todos eles estavam lá para me amparar, e a minha presença fez diferença para a minha família. Mas, a realidade cai de volta sobre nós, como uma bola de neve numa avalanche, novamente, eu tive que ir embora.

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