domingo, 2 de maio de 2010

Cada um tem a sua Alice


por Marilda Piccolo



A história de “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll sempre me fascinou, desde que ganhei o livro quando tinha por volta de 7/8 anos do meu irmão mais velho. Li e reli o livro inúmeras vezes, sonhei em ser Alice e muitas vezes discuti com o Gato de Cheshire sobre os caminhos de minha vida, os caminhos que devemos tomar quando não sabemos aonde queremos ir...

Depois de muito ler Alice, já adulta, concluí que a história era uma metáfora de como uma criança se sente ao chegar à escola: caindo em um buraco sem fim, chegando a um lugar onde há portas grandes e pequenas, vivendo determinadas situações nas quais ela deve ser “gente grande” e outras nas quais deve ser “gente pequena”, devendo acreditar que animais e plantas se comunicam e ir além, devendo conversar com animais e plantas, mas também tendo obrigação de obedecer regras de pessoas malucas e outras nem tanto e – por fim – tendo sempre um coelho branco a lhe dizer: está ficando tarde, muito tarde e você está sempre atrasada!

Agora chega Tim Burton com uma metáfora da metáfora e nos apresenta um país das maravilhas totalmente delirante (mais para o sentido de apaixonante do que para o de desvario), como uma alucinação hipnagógica, sabe daquelas quando estamos acordando de um sonho e ainda não temos a total dimensão da realidade e da fantasia? Pois bem, assim é “Alice in Wonderland” de Tim Burton, bem longe do que Lewis Carrol escreveu, mas nem por isso ruim. Ou talvez justamente ruim porque se afastou muito da metáfora que eu acreditei durante toda minha vida.

Em certo ponto do filme, comentei com meu filho “Acho que todos nessa wonderland consomem drogas deliberadamente para poder suportar a realidade do submundo”. Mas, apesar de tudo, eu gostei do filme, podem acreditar. Não foi a Alice dos meus sonhos, mas foi a dos sonhos dele!

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